A arte de conviver

Como sempre lidei com pessoas de crenças, pensamentos e mundos diferentes.

Jesusmar Sousa

5/11/20255 min read

A foto dessa postagem além de ser umas poucas que tenho (não sou fã de fotos), pode simbolizar bem o título dessa postagem.

A foto em questão foi tirada durante a cerimônia de casamento do meu primo. Foi uma honra ter participado fazendo uma leitura bíblica em um momento tão especial. Como pode ser percebido pela imagem ao fundo, estava em uma Igreja Católica, participando de uma cerimônia católica. Isso para mim, dentre outros eventos da minha vida, é algo libertador, dada a minha criação cristã evangélica e a filosofia que carreguei durante anos.

Apesar de falar da minha criação evangélica e uma filosofia anterior, posso afirmar sem medo de errar que, minhas convicções não costumavam ditar o modo como eu convivia em sociedade, seja na escola, na vizinhança, no trabalho. O que eu acreditava, em regra, não atrapalhava meu convívio social. Quem me conhece vai ter que concordar que sempre fui uma pessoa de convivência, na medida do possível, agradável.

Desde criança tive facilidade de me relacionar com as demais pessoas. Lembro que vez ou outra sempre estava ao lado de crianças que não eram bem quistas por outras e eu nem mesmo sei o porquê. Na verdade nunca me importei com o que as pessoas faziam ou deixavam de fazer. Sempre entendi que cada ser humano tem seu comportamento, sua história, sua religião, sua filosofia.

Por mais que em algum momento minhas crenças (ou crenças impostas a mim) pudessem prevalecer, sempre pensei que o respeito deveria estar acima de tudo e todos. Eu não deixava de propagar a minha fé, minha crença, mas nunca recriminei quem quer que fosse pela sua crença.

Então como mantive e mantenho bom convívio apesar das divergências inevitáveis do dia-a-dia?

Falando sobre crenças

Fui criado dentro de uma crença pautada no cristianismo evangélico neopetencostal desde minha infância, mais precisamente quatro anos de idade, e assim segui até meus vinte e dois anos. Eu sempre segui com muito respeito aquilo que aprendi dentro da bíblia. E aqui mora um detalhe importante: Dentro da bíblia.

Eu participava de um grupo religioso e aprendi a ler a bíblia desde a infância e sempre tive um conhecimento surpreendente para minha idade. Esse conhecimento me fez enxergar além daquilo que me ensinavam. Não estou de modo algum a dizer que sei mais que os outros ou que sempre me ensinaram coisas erradas. O que estou a dizer é que temos que ser mais do que aquilo que ensinam ou tentam nos impor. Eu respeitava as figuras e os ritos religiosos, mas o meu fascínio pela bíblia, sobretudo pela história de Jesus Cristo, me fazia entender que existiam ensinamentos muito mais profundos que aqueles que eram passados para mim. 

Entre discordâncias e concordâncias, hoje olhando para trás, percebi que sempre tive um compromisso com a minha espiritulidade muito além da religiosidade. Esse compromisso não permitia que eu olhasse as pessoas de maneira discriminatória ou julgadora. Sempre entendi, dentro do meu contexto de crença, que a salvação pregada estava longe de pertencer a um grupo religioso e que eu não era capaz de determinar quem era certo ou errado, justo ou pecador, salvo ou condenado. Nunca coube a mim ou a ninguém fazer isso. Eu sempre entendi que salvação ou perdição, no contexto cristão, estava nas mãos de um criador e não nas minhas ou de qualquer um que se intitule líder espiritual. 

De maneira inconsciente carregava esses pensamentos comigo. Se eu não sou capaz de determinar o que será das pessoas pelo que elas fizeram ou deixaram de fazer, por que eu as julgaria e me privaria do convívio com elas? 

Conviver com a diferença

Mencionar a fé ou religiosidade parece algo estranho para contextualizar esse tema, mas não é. A religião, a política, dentre outros elementos da sociedade, sempre foram objetos de divisão, contenda e até desrespeito com os semelhantes.  

Quando alguém assume um posicionamento religioso extremista, normalmente dá lugar ao ódio, ao preconceito, a intolerância e a discriminação. São palavras feias e sentimentos terríveis para uma sociedade, porém, infelizmente é isso que se vê na prática. As pessoas querem dizer que não, tem nada a ver, entretanto, quando você olha diferente para alguém por causa da sua religião, da sua orientação sexual, ideologia ou qualquer outro fator discriminatório, não deixa de estar ferindo uma convivência que deveria ser harmoniosa. 

Eu me pergunto: Por que eu deveria me importar com a orientação sexual de alguém? Por que eu deveria estar preocupado com a crença do outro? Por que eu deveria deixar de conversar com alguém ou mesmo desrespeitá-lo por conta de uma ideologia diferente da minha?

Nesse ponto eu consigo lembrar o que me fez sempre me dar bem com as pessoas que convivi e convivo: A tolerância.

Para mim pouco importa no que a pessoa acredita ou deixa de acreditar. Pouco importa qual a sua orientação sexual. Pouco importa qual a sua ideologia. O que importa é o respeito que eu devo e que o outro também me deve. 

Me impressiona como as pessoas se importam com tudo o que a outra faz ou deixa de fazer, o que ela veste, o que ela come, os lugares que ela frequenta. Por que isso seria tão importante? Isso é mais importante do que ter uma convivência harmoniosa?

Lembro de uma situação curiosa, eu ainda muito jovem, acho que com os meus 19 ou 20 anos, uma pessoa do meu trabalho perguntou qual igreja eu frequentava e eu respondi.  Talvez essa pessoa leia essa postagem e lembre dessa conversa. Após responder, ela se surpreendeu com a minha resposta. Segundo ela, uma parente dela frequentava a mesma denominação e vivia falando que tudo era o diabo. Ela achava que eu era de outra denominação. Ao que tudo indica, a instituição que eu frequentava induzia muita gente, consciente ou insconscientemente a ter um comportamento hostil, a ponto de tratar tudo na vida como algo vindo de um ser maligno. Eu sempre tive um temperamento bem diferente. Mesmo que eu achasse que era algo maligno, nunca senti a necessidade de externar para as pessoas coisas que só interessavam a mim e a minha crença.

Então meu modo de conviver com as diferenças sempre se pautou no respeito, na tolerância e na sabedoria de entender o que competia a mim dividir com as outras pessoas ou não. Entender que ninguém era obrigado a acreditar no que eu acreditava e que se a pessoa é diferente, não merece meu desprezo. Afinal de contas, vivemos em sociedade. É o mínimo que temos que exercitar.

O mundo poderia ser melhor  

Sim. Poderia ser melhor. Se as pessoas simplesmente respeitassem as decisões das outras, as crenças das outras, a vida das outras. 

A sociedade não é sobre mim. Vivemos em comunidade e ninguém é obrigado a seguir um posicionamento pessoal meu. Então, não cabe a mim ditar o que o outro deve fazer.

Dentro do modelo de sociedade, em regra, temos normas, regulamentos e princípios éticos que precisam ser comum a todos. Entretanto, aquilo que é particular, deve ser mantido em particular e precisamos aprender a sermos tolerantes com os outros. 

O que não deve ser tolerado é a discriminação e práticas nocivas ao convívo social.