Roupa Nova em Brasília: O Show que Eu Recusei no Pará por Medo das Minhas Crenças

Neste relato emocionante, conto como enfrentei antigas crenças religiosas ao realizar o sonho de ver Roupa Nova ao vivo em Brasília — anos depois de ter recusado a mesma oportunidade em Marabá por medo do julgamento da minha mãe e da igreja.

Jesusmar Sousa

4/30/20254 min read

Um sonho adiado

Não consigo me lembrar desde quando eu adoro músicas do Roupa Nova. Tenho a impressão que desde sempre.

O curioso é que desde quatro anos de idade fui criado por minha mãe em uma igreja evangélica. Apesar de ser uma igreja neopentecostal , ou seja, não tão tradicional, quem conhece um pouco do pragmatismo religioso evangélico protestante e suas doutrinas, vai saber que não é comum que seus membros ouçam músicas seculares, muitas vezes denominadas "músicas mundanas". Eu era uma exceção. Sempre gostei de músicas seculares. Adorava ouvir rádio. E Roupa Nova é uma história a parte.

Como sempre gostei de Roupa Nova, certa vez, há muitos anos, perdi a oportunidade de participar do show no município onde cresci em Marabá, no Pará. Se eu me arrependi? Sim. E muito.

O show recente em Brasília não foi apenas um evento musical, mas o fechamento de um ciclo emocional.

A Primeira Oportunidade: Marabá, Pará

Morava em Marabá, no interior do Pará. Cresci lá. Vivi por mais de 30 anos no município. Infelizmente não consigo precisar o ano do acontecimento e não encontrei registros na internet do show. O que lembro é que foi amplamente divulgado pelas rádios.

Quando ouvi que a banda iria tocar na cidade, fiquei quase que sem acreditar. Pensava à época: "Imagina, o Roupa Nova aqui?". Eu já trabalhava, tinha meu próprio dinheiro. Fui aprovado no meu primeiro concurso público aos 17 anos, concurso municipal. Fui convocado próximo dos meus 19 anos. Desde então segui na carreira pública. A banda iria tocar em Marabá e eu tinha condições financeiras de ir. À época, salvo engano, era cerca de R$ 500,00 (quinhentos reais) a mesa. Na minha mente eu chamaria minha irmã, que também é super fã do Roupa Nova, e iríamos juntos.

O dinheiro não era o problema e sim minhas crenças. Como falei no início, minha mãe entrou na igreja evangélica e eu era criança. Daí parte meus primeiros dilemas. Dentro dessa igreja eu trabalhava ativamente na condição de colaborador. Então eu não era só um frequentador. Quem conhece a estrutura das igrejas evangélicas sabe que existe diferença entre você estar trabalhando ativamente e ser somente um frequentador. O nível de comprometimento é alto. Sempre fui ativo, desde adolescente e porque não dizer, desde criança. Sempre fui admirado pela minha dedicação.

Não bastasse a questão religiosa, enfrentava um conflito que eu considerava ainda maior: Contrariar a minha mãe. Fui criado em um ambiente evangélico e minha mãe fazia questão de nos manter firmes dentro das doutrinas, de modo que o nosso comportamento tinha que ser irrepreensível. Não podíamos ser mau exemplo e isso era um fator que me fez recuar na minha vontade de ir ao show. Pensava comigo mesmo: Imagina eu dizer para minha mãe que eu vou ao show do Roupa Nova? Nunca vou saber o que ela diria ou pensaria. Para ser honesto, anos depois, ainda não sei. Nunca perguntei. 

O que chama atenção nessa história é o que eu já mencionei lá no início: Eu já era independente, era adulto e trabalhava. Mas a minha prisão basicamente era religiosa e mental em relação a minha mãe. 

Crenças que Limitam: O Peso do Julgamento

Peço que o(a) leitor(a) não me entenda mal. A ideia aqui não é criticar a religião de quem quer que seja e muito menos criticar a minha mãe. Respeito todas as religiões e amo minha mãe. É sobre mim, sobre meu posicionamento, sobre a falta de coragem de assumir o que eu pensava e queria, mesmo sendo um adulto e, supostamente, independente.

Muitas vezes podemos deixar de sermos nós mesmos, expressarmos nossos gostos e vontades, de tomar decisões que podem nos trazer felicidade e satisfação pela "necessidade" de agradar pessoas e nos limitarmos por crenças que muitas vezes não nos representa. E quer saber? Se eu fosse ao show, isso não me faria menos cristão. Hoje entendo isso. 

Você já parou para pensar quantas vezes você já deixou de fazer algo que você gosta por conta de uma crença que foi imposta a você? Quantas vezes você já abriu mão de algo para não desagradar alguém?

Brasília: Um Reencontro com a Liberdade

No último dia 13 de abril de 2025, fui ao show do Roupa Nova com a minha esposa. Fiquei muito feliz quando no mês anterior fiquei sabendo da nova oportunidade. O melhor de tudo é que o show foi no mês e um dia após meu aniversário.

O ambiente foi maravilhoso. Me senti emocionado e minha esposa também. Para mim foi uma realização de sonho e de fato, sem ser "fanboy" (risos), eles cantam demais. Enfim, sacramentei minha liberdade.

                                                 

O Que Esse Show Representou para Mim

Esse show representou o meu amadurecimento e libertação. Entendi que não existe nada demais em fazer aquilo que eu gosto e não importa quem goste ou não goste, quem ache bom ou ruim. É sobre mim e não sobre os outros. 

Assuma o controle da sua vida e seus gostos. Não permita que as crenças ou opiniões alheias impeçam de fazer aquilo que você quer e gosta. Não se sinta culpado(a) por fazer o que realmente deseja. 

Seja você mesmo(a)! Seja feliz!